sexta-feira, abril 20, 2007

A escuridão do mar...

"A conversa é sempre a mesma. Ele diz que me entende, que é feliz comigo. Depois, sai pela porta fora, de cara amuada e volta horas depois. Não sei o que ele vai fazer, mas volta com a mesma cara. Perguntei-lhe. Disse-me que ia ver o mar. O mar à noite é coisa para meter medo, digo eu. Ele cala-se e pergunta-me porque é que eu sou como o mar à noite, fria e escura. Agora é a minha vez de ficar sem palavras. Silêncio. Procuro encontrar uma resposta que faça sentido, mas não encontro. Na verdade, eu não faço sentido e ele também não. Respiro fundo. Digo-lhe que sou assim por causa dele, porque ele não me compreende. Ele olha incrédulo. Eu sinto-me mal, mas sei que estou certa, ou queria estar. Sentamo-nos os dois no sofá, só nós e o silêncio. Estivemos assim algumas horas. Depois, olhámos um para o outro e abraçámo-nos, como se não nos vissemos há muito tempo. Beijou-me a face e disse-me que todos nós temos um lado frio e escuro, como o mar, e que sozinhos não conseguimos fazer com que ele se torne brilhante, como numa bela tarde de Verão. Eu sorri. (Obrigada por estares sempre ao meu lado, mesmo nas noites em que sais para ver o mar...e eu vou contigo, mas só em pensamento)."